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Enfermeira coordena o combate à dengue e ao zika vírus no Espírito Santo


05.04.2016

Gilsa Rodrigues, especialista em Saúde Pública, traz aqui informações e orientações valiosas para os profissionais de enfermagem, trabalhadores de saúde e população em geral

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O Brasil enfrenta um gravíssimo problema de saúde pública: o avanço das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A dengue tem provocado mortes por todo o país, já o zika vírus pode ser o causador da microcefalia em bebês. Há ainda a febre chikungunya, que tem sintomas parecidos com os da dengue.

Devido à complexidade da situação, as autoridades de saúde e a sociedade civil organizada convocaram a população para uma verdadeira guerra contra esse inimigo que, embora pequeno, produz um efeito cruel e devastador.

No Espírito Santo, a enfermeira Gilsa Rodrigues, ex-conselheira do Coren-ES, é quem coordena o combate ao Aedes aegypti, bem como a definição e o acompanhamento das ações adotadas no território capixaba para controle da dengue, zika, chikungunya e de outras doenças. Gilsa é a gerente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), cargo que assumiu há cerca de dois anos e meio, depois de outras experiências em gestão de políticas de saúde.

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Gilsa Rodrigues é formada pela Universidade Federal do Espírito Santo há 27 anos, e tem especialização em Saúde Pública na Bélgica. Foi chefe do setor de Vigilância Epidemiológica de Vila Velha por sete anos. Depois foi convidada a assumir a chefia da Vigilância Ambiental da Sesa, onde atuou durante dois anos. Em seguida chefiou a Vigilância Epidemiológica Estadual, também por cerca de dois anos.

Agora, à frente da Vigilância em Saúde da Sesa, encara um dos maiores desafios: conter a proliferação do Aedes aegypti e tudo de perverso que ele provoca. E ela tem se dedicado a essa missão com muita competência e seriedade. Enfrenta uma rotina pesada e uma agenda sempre cheia de compromissos, com muitas reuniões e entrevistas à imprensa. O Coren-ES também foi conversar com Gilsa Rodrigues.

Como é estar à frente da Vigilância em Saúde neste período tão complicado?

O desafio é enorme. O setor aqui é bem grande e a responsabilidade de coordenar o processo de vigilância de 78 municípios realmente é desafiador. O número de municípios aqui é menor do que na maioria de outros estados, mas isso não torna o nosso trabalho mais fácil.

E alguns municípios estão mais estruturados que outros ou não há diferença?

Existe muita diferença. Uns municípios têm mais recursos para aplicar na Saúde, outros menos. O nível de atenção, de exigência, depende da realidade local. Sem contar que essa realidade muda constantemente. Um município pode estar bem estruturado hoje e daqui a dois ou três anos começa a enfrentar problemas e se desestrutura. Mas o contrário também acontece. Uma cidade em dificuldades passa por um processo de estruturação e consegue responder melhor às demandas.

A Vigilância em Saúde tem como alvo principal o combate ao mosquito Aedes aegypti?

A gente tem várias frentes, mas o que mais nos ocupa nesse momento é a guerra que estamos travando contra o mosquito Aedes aegypti, responsável pelos casos de dengue e zika vírus no Espírito Santo. Felizmente, ainda não temos confirmação de chikungunya. Mas a gente tem extrema preocupação com esse mosquito porque ele também é transmissor da febre amarela, por exemplo. Sem contar outras doenças que não tivemos, mas que poderemos ter. Então, é preciso lutar com todas as armas para vencer essa guerra. Do contrário, dentro de algum tempo, teremos que lidar com outras doenças, como ocorre agora com o zika vírus.

Os números de dengue e zika vírus ainda estão crescendo?

Sim. Nos três primeiros meses de 2015 nós tivemos 3.650 casos de dengue notificados. Este ano, 2016, foram 29.727 casos. Do zika vírus, em 2016, temos 3063 casos notificados até o momento no Espírito Santo. Mas o que mais nos preocupa, são os 107 casos de microcefalia já notificados, entre 2015 e 2016, Bebês que nasceram com o perímetro cefálico menor que 32 cm, ou mães que estão gerando filhos com uma diminuição do perímetro cefálico. As crianças com confirmação da doença estão passando por um neuropediatra e por diversos exames, como tomografia e ressonância magnética.

A maioria dos focos do mosquito está dentro das residências. Isso quer dizer que a população não está fazendo a parte dela como deveria. E o poder público, está cumprindo seu papel?

O que falta ainda para o poder público é um ajuste no número de agentes de combate a endemias. Existem municípios que não têm pessoal suficiente para realizar as visitas necessárias. O preconizado pelo Programa Nacional de Dengue e de controle do Aedes aegypti é que se façam, minimamente, quatro visitas a cada residência/imóvel por ano. Ou seja, uma visita a cada três meses. Mesmo assim, esse programa não consegue ser cumprido. Mas é preciso ressaltar que não encontramos focos apenas onde faltam agentes.

Significa que a população não cumpre efetivamente as orientações dos agentes?

O agente vai à minha casa, digamos a cada dois meses ou três. No restante do tempo quem tem que tomar conta daquele ambiente? Eu e minha família. Do que adianta o agente ir hoje, fazer uma visita completa, eliminar os focos do mosquito com uso do produto larvicida, e à noite eu dou uma festa, deixo copo descartável, tampa de refrigerante pelo quintal e chove? Amanhã terá um prato ou copo cheio para a fêmea depositar os seus ovos. Dentro de oito a dez dias teremos uma nova população de mosquitos. Porque esse é o tempo que leva entre a colocação dos ovos e o mosquito sair voando, se ninguém fizer nada. O agente público, o Estado, tem o seu papel, inclusive o de orientar e isto nós estamos fazendo. Agora, cuidar da nossa casa, no dia a dia, é papel nosso, de cada cidadão.

Qual a principal dica nesse caso?

Simples. É preciso que as pessoas elejam um dia na semana, e sempre nesse mesmo dia, façam uma vistoria cuidadosa. O objetivo é ter certeza de que o ciclo do mosquito sempre estará sendo quebrado. Com essa rotina de cuidado, estaremos impedindo o mosquito de nascer. Por exemplo, eu limpo na quarta-feira, realizo aquela festa que a gente comentou, mas na próxima quarta eu limpo de novo. Se por acaso tiverem colocado ovos depois da festa, eu estarei novamente quebrando esse ciclo. Então a ideia é essa: limpar tudo a cada sete dias, uma vez por semana, sempre no mesmo dia. Nós precisamos que isso seja incorporado na vida de todas as pessoas, que se torne um hábito. No dia em que alcançarmos isso, nós faremos o controle desse mosquito.

E para os profissionais de saúde, quais são as suas orientações?

Para a enfermagem e os demais profissionais de saúde eu gostaria de dizer duas coisas: primeiro o papel dele enquanto cidadão no combate ao vetor dessas doenças. Ou seja, ele também é convidado a não criar mosquitos nas suas casas, inclusive se responsabilizando pela vizinhança. A segunda é: sigam rigorosamente os protocolos. Eles estão postos, estão bastante acessíveis, mas, em muitos casos de óbitos que estamos investigando, vemos que os protocolos não foram seguidos. Por exemplo, o que salva o paciente da dengue é a hidratação. Porém, o volume que esse paciente recebe, na grande maioria das vezes, está aquém daquele que deveria receber e que está descrito nos protocolos. Então, eu convido os colegas enfermeiros a conhecerem os protocolos e a discuti-los com a equipe de saúde no seu local de trabalho. Seguir os protocolos significa salvar vidas, e esse é o nosso principal papel. Todos estes protocolos podem ser acessados pelo link: http://antigo.saude.es.gov.br/ na seção “Informações ao Cidadão”.

E qual a importância da notificação?

A notificação também não pode ser esquecida. A gente sabe que todas as doenças estão subnotificadas. A dengue é uma delas, o zika vírus poderá ser uma delas se a gente não mudar de conduta. Quando conhecemos realmente os números, o tamanho do problema, temos mais condições de pensar e definir políticas públicas para enfrentar a questão. E a notificação é atribuição de todos. Do enfermeiro, do técnico de enfermagem, do médico. É papel de quem atendeu. Então, espero ter o número de notificações que se aproxime do real para que a gente conheça de verdade o problema que temos nas mãos para, assim, pensar nas soluções mais adequadas.

 

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