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Em audiência pública na Ales, conselheira do Coren-ES lê carta emocionante de jovem com deficiência física


04.12.2019

“As demandas relacionadas com a cadeiras de rodas fornecidas pelo SUS” foi o tema de uma audiência pública realizada na noite dessa terça-feira (3), Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, na Assembleia Legislativa, em Vitória.

Representando o Conselho Regional de Enfermagem Coren-ES, a conselheira Rosane Aleixo marcou o evento com a leitura de uma carta escrita por Lucas Pires de Alencar, de 18 anos, morador de Cariacica. O jovem ficou paraplégico em fevereiro do ano passado, após ser atingido por uma bala disparada acidentalmente.

Na carta, ele expõe a dor e o drama que tem enfrentado e chama a atenção para os problemas que precisam ser resolvidos.

“Nesse um ano e 10 meses de lesão medular percebi que o mundo não foi feito para receber pessoas com deficiência e que o preconceito está longe de acabar. Não há como realizar a nossa inclusão neste mundo se as pessoas não se despirem de todo o preconceito e se colocarem no nosso lugar, enquanto nossos bairros não tiverem calçadas e vias acessíveis, nossas escolas não tiverem lugares adequados, o transporte não for adequado e enquanto não houver cadeiras de rodas adequadas, prótese e órteses liberadas em tempo hábil, as pessoas continuarão dependentes e com a autoestima afetada”.

O relato do jovem sensibilizou os presentes e reforçou o entendimento de que é preciso não só cumprir a legislação voltada para as pessoas com deficiência como também ampliar as políticas públicas.

Mercado de trabalho – Rosane também levou para debate o projeto de lei 6159/2019, de autoria do Governo Federal, que altera a Lei de Cotas no mercado de trabalho para pessoas com deficiência.

“A alteração proposta pelo governo federal permite que as empresas façam uma contribuição para um fundo em vez de contratar pessoas com deficiência. Isso vai impactar muito o mercado de trabalho para essas pessoas, nesse setor de muito preconceito”, disse Rosane.

Leia abaixo a integra da carta:

Minha história como pessoa com deficiência física.

Meu nome é Lucas Pires de Alencar, hoje tenho 18 anos, nasci no dia 09 de novembro de 2001, acabo de finalizar o ensino médio, moro em Itaquari, Cariacica. No dia 03 de Fevereiro de 2018 eu estava saindo com uns amigos pela primeira vez para ir a um bloco de carnaval de um bairro vizinho e lá estavam vários jovens, alguns que não conhecia e outros que estudavam comigo, um jovem de Vila Velha levou uma arma para a festa e começou a brincar com outros adolescentes e nessa brincadeira a arma com uma bala na agulha disparou e me acertou, naquele momento eu caí no chão sem conseguir respirar, pois a bala entrou pela escapula, perfurou meu pulmão, quebrou minha costela e parou no lado esquerdo entre as vertebras 8 e 9 da torácica, perdi a sensibilidade no mesmo momento e hoje estou paraplégico. Logo que tive alta do hospital eu percebi um mundo novo, um mundo onde parecia que não foi feito para mim, pois as dificuldades começavam ali, além de lidar com a nova situação e tentar me reabilitar eu tinha que conviver com um mundo despreparado e tive a oportunidade de conhecer de perto o verdadeiro significado das palavras PRECONCEITO e ACESSIBILIDADE, o bairro onde moro é morro, então necessito de ajuda para sair de casa, as casas dos meus amigos tem escada, então eles quem vem me visitar, a minha escola não estava preparada para me receber, embora eles tenham tentado fazer o possível para que eu não ficasse prejudicado nas aulas que perdi, as mesas não eram compatível com minha cadeira, então ficava durante todo o período de aula desconfortável, os carros dos professores ficam na entrada da escola atrapalhando minha entrada, mesmo minha mãe fazendo várias reclamações na diretoria sempre tinha um carro na frente da rampa ou do portão de entrada. A rua alaga e tem vários buracos atrapalhando minha chegada à escola e como se não bastasse todo esse transtorno, dificilmente conseguia vaga no Mão na Roda para me levar e buscar, terminei o ano com minha mãe me empurrando no morro para eu não perder minhas aulas.

No final de março deste ano fiquei no Hospital de Reabilitação Sarah Kubitschek de Brasília, lá tive um atendimento excelente passei por vários profissionais, a cidade tem uma estrutura mais adequada, me senti num lugar pronto para atender minhas necessidades, e quando passei pela fisioterapeuta ela me perguntou quais eram as minhas maiores dificuldades. Quando falei sobre o meu dia a dia e sobre a região onde moro, ela me disse que existe uma cadeira de rodas monobloco que é mais leve e me ajudaria a me mover sozinho mesmo em lugares íngremes e me daria mais acessibilidade, quando voltei para o meu estado estive no CREFES para solicitar esta cadeira e fui informado que só seria possível fazer esta solicitação em Dezembro de 2021 porque eu recebi uma cadeira comum em Dezembro de 2018, perguntei se poderia trocar a cadeira porque ela estava nova e não era adequada para mim e foi negado, par piorar desde que sofri o acidente não recebi a cadeira de banho até o momento, e a resposta deles é que não chegou ainda, eles disseram que estão liberando a cadeira de pessoas que solicitaram em 2017, tomo banho numa cadeira doada que por ter sido usada por várias pessoas quebrou e está toda amarrada com cordas para aguentar meu peso e tamanho, já tive escara por me machucar nesta cadeira, mas não tenho condições de comprar uma nova. 

Hoje sou dependente da minha família para sair de casa porque minha cadeira é pesada e não consigo subir a ladeira sozinho, estou tendo dores de coluna diariamente, minha mãe sente dores nas pernas e nas costas, pois eu tenho 1,80 de altura e peso 86 quilos, ela sobe e desce comigo para médico, escola e fisioterapia, nesse 1 ano e 10 meses de lesão medular percebi que o mundo não foi feito para receber pessoas com deficiência e que o preconceito está longe de acabar, não há como realizar a nossa inclusão neste mundo se as pessoas não se despir de todo o preconceito e se colocar em nosso lugar, enquanto nossos bairros não tiverem calçadas e vias acessíveis, nossas escolas não tiverem lugares adequados, o transporte não for adequado para todos e enquanto não houver cadeiras de rodas adequadas, prótese e órteses liberados em tempo hábil, as pessoas continuarão sendo totalmente dependentes e sua autoestima será afetada. Minha mãe tinha uma profissão e teve que interromper sua vida profissional para ficar disponível em tempo integral aos meus cuidados e necessidades, hoje nossa vida financeira mudou muito e temos muitas necessidades, se eu estivesse recebendo o auxílio necessário para melhorar minha qualidade de vida e garantir minha independência ela poderia voltar ao mercado de trabalho. Eu acredito que a solução para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência é preparar o país e o mundo para nos receber e não o contrário, só assim existirá uma convivência digna garantindo que nossos direitos não sejam violados, sei que a caminhada é árdua, mas não podemos nos calar e nem desistir.             

Lucas Pires de Alencar

03 de dezembro de 2019                                                                                            

 

 

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