Rotina pesada afeta psicológico dos profissionais de saúde e pode contribuir para contaminações


06.06.2020

No combate à Covid-19, muitos trabalhadores da área enfrentam, ao mesmo tempo, uma outra batalha: a luta contra o estresse, a ansiedade e a angústia

Presidente do Coren-ES em entrevista à TV Vitória

A rotina pesada de trabalho tem afetado a saúde mental e emocional de profissionais da saúde que atuam diretamente no combate à pandemia do novo coronavírus. No enfrentamento à Covid-19, muitos trabalhadores da área enfrentam, ao mesmo tempo, uma outra batalha: a luta solitária contra o estresse, a ansiedade e a angústia.

O Conselho Regional de Enfermagem no Espírito Santo (Coren-ES) tem recebido diversas queixas relacionadas à saúde mental de técnicos e enfermeiros capixabas. Elas se revelam entre as mais de 130 denúncias já registradas de sobrecarga de trabalho e dificuldade de acesso a testes.

O técnico de enfermagem Raimundo Xisto de Ramos Filho, que atua em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Grande Vitória, conta que a exposição a uma doença ainda tão pouco conhecida preocupa.

“Isso mexe com a cabeça de qualquer profissional, porque a gente sabe do alto risco de contaminação dos profissionais que estão expostos ali. Paciente que fica em UTI fica sob ventilação mecânica e outros procedimentos invasivos, que aumentam muito a possibilidade de contágio do profissional”, afirmou.

A preocupação é a mesma do médico intensivista Adenilton Rampinelli, que explicou como é sua rotina após deixar mais um plantão seguir para casa. “A gente tira a touca e joga no lixo. A máscara a gente sempre tira pelo elástico, para não contaminar. Logo depois a gente toma um banho, bota a nossa roupa de casa e retorna para o nosso domicílio. E é sempre uma preocupação muito grande se a gente não está levando alguma coisa para dentro de casa”, disse.

“Todos os profissionais têm sentido muito estresse psicológico, estresse emocional. Tem havido algumas divergências entre as equipes, o que é muito normal numa época de pandemia, transtorno de sono. Eu mesmo tenho tido transtorno de sono. Às vezes eu acordo assustado, com o coração acelerado, achando que o dia já passou, suado”, contou o técnico de enfermagem Valentim Moreira Brandão.

Tais problemas, de acordo com o Coren-ES, podem até contribuir para as contaminações. “Esse profissional vai estar com menos energia, menos disposição. Isso vai acabar diminuindo o nível de atenção. Por isso, é extremamente importante que os gestores de RH, as pessoas que exercem o papel de liderança e de cuidado da equipe de saúde dentro do serviço, que elas também estejam alertas neste momento”, destacou a presidente do conselho, Andressa Barcellos.

O médico intensivista Adenilton e o técnico de enfermagem Raimundo, por exemplo, foram infectados pelo novo coronavírus. Raimundo conta que apresentou os sintomas no mês de abril e teve de ficar duas semanas afastado do trabalho. “Eu tive sintomas como dor de cabeça intensa, muita dor no corpo, fraqueza. O corpo só pedia para ficar em repouso em cama”, lembra.

Os frequentes afastamentos de colegas acometidos pela Covid-19 também se tornaram motivo de preocupação. E o distanciamento entre aqueles que permanecem na ativa não ajuda a aliviar a tensão do dia a dia, apesar de necessário.

“Medo hoje eu não tenho mais. Mas as crises de ansiedade batem, principalmente no final do dia. Dá uma sensação de ansiedade mesmo, de que eu não queria estar tendo que passar por isso. Mas foi o que eu escolhi enquanto profissão, foi o que eu escolhi enquanto especialidade”, destacou a médica infectologista Rubia Miossi.

O Conselho Federal de Enfermagem oferece atendimento especializado a profissionais da saúde, por meio de um chat (bate-papo). Dar a eles a oportunidade de expressar os sentimentos é uma forma de alento, num momento em que são tão necessários.

“Às vezes as pessoas se sentem mais confortáveis em conversar fora do ambiente de trabalho do que no ambiente de trabalho, porque têm medo de, às vezes, o que elas desabafam chegar na direção do serviço, de isso ser motivo de perseguição”, afirmou Andressa Barcellos.

No aconchego de casa, no carinho dos filhos e da esposa, Raimundo renova as energias e encontra o estímulo que precisa para seguir em frente na nobre profissão. Claro que toma todos os cuidados antes de entrar em casa, depois de um plantão.

“Sempre que eu chego do serviço, eu já tiro o sapato do lado de fora do nosso apartamento, venho com ele em mãos e coloco ele aqui [no tanque da área de serviço]. E antes de trabalhar, eu pego os sapatos e levo para calçar lá fora, para evitar de ter contato desse sapato dentro da minha casa e de, possivelmente, infectar alguém aqui dentro de casa”, relatou o técnico de enfermagem.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV

ASSISTA À REPORTAGEM EXIBIDA NO JORNAL DA TV VITÓRIA dessa sexta-feira.

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